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Editora: Veredas e Cenários

Ano: 2012

Páginas: 128

As mesmas palavras

Osvaldo André de Mello

             

       Acredito que "As mesmas palavras" seja um dos livros mais marcantes de Osvaldo André. É nele que o autor toma consciência dos temas principais de suas poesias, o cerne das suas criações. O livro se divide em poemas inéditos e outros  selecionados de livros anteriores. Também somos presenteados com um cd, onde Osvaldo André faz uma leitura (oralizada) de todos os poemas do livro.

       Ainda enfatizando o peso desta obra e a importância do autor no cenário cultural brasileiro, em 2013, Alba Valéria Niza Silva defendeu junto a PUC uma tese de doutorado intitulada "A poesia de Osvaldo André de Mello - gênese e imaginário em As mesmas palavras."

 

A seguir, os dois poemas que mais me tocaram.

 

" A camélia

 

Custou-me furtar a camélia às alturas.

E a prisão na solitária.

O assassino contempla

a suspensão da vida.

No viço artificial, anoitece

a nívea camélia afogada.

 

O invisível, as conexões metafóricas,

a doçura formal,

nada está aqui -

mas a camélia freme no poema

de Henriqueta Lisboa."

 

 

 

 

"A camélia floresce

 

A camélia floresce. Era um botão.

A água na jarra proporciona-lhe, agora,

a juventude. As pétalas centrais informes

abraçam, em pálido carmim, os pistilos de ouro.

 

A camélia floresce, as suas próprias folhas

a reverenciam e protegem.

 

A camélia floresce e ainda ouve o sorriso

das crianças de Istambul que visitam

a sua história.

 

A camélia floresce e ainda ouve as vozes dos corvos

e as palavras do Alcorão que sobem ao encontro da Lua.

 

A camélia floresce e ainda escuta a música

do Bósforo e vê o Sol repentino que expulsa

as brumas da cidade e esplende.

 

A camélia adormece na memória da sua espécie.

E não suspeita de que foi sequestrada do jardim do sultão

e em pouco perderá as pétalas,

a um sussurro da madrugada."

 

 

 

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